terça-feira, 21 de junho de 2011

Aberta a CPI dos brasileiros

Marina de Morais

Ver a charge de Bello sobre Palocci e o “Minha Casa Civil Minha Vida – programa de enriquecimento fácil” me fez refletir sobre a situação atual do país no que diz respeito à  política. Nós, brasileiros, temos a péssima mania de transferir a nossa culpa para os outros, quando este “outro” é o Governo, seja em qualquer uma de suas instâncias, federal, estadual ou municipal, essa transferência parece ficar ainda mais forte.
 
 
A história mostra que o povo brasileiro lutou durante décadas para poder se expressar livremente, para poder votar em quem governar, para chegar à chamada democracia. Democracia essa que parte do pressuposto que todos são obrigados por lei a votar. Um paradoxo, mas essa ainda não é a questão central. Parecemos um cachorro correndo atrás de carro, em que quando o carro para não sabemos o que fazer. É assim também com a democracia. Quisemos votar. Pudemos. Agora que podemos, queremos reclamar dos políticos e do seu feio costume de roubar dinheiro público. Não estou aqui fazendo apologia ao roubo, muito menos aos políticos. O que precisa ficar claro para todos nós brasileiros é que quem nos governa é quem nós escolhemos, em que nós votamos.

Então, é claro que eu ouvirei o comentário: “Mas o Palocci é Ministro da Casa Civil, foi escolhido por Dilma e não por mim”. Certo, mas o que nos faz pensar que a única coisa que podemos fazer é ficar de braços cruzados, como diria Chico Buarque, “esperando a festa, esperando a sorte, esperando a morte”? Ir para as ruas, exigir dos políticos o que nos é de direito? Nem pensar. É melhor ficar em casa para assistir a televisão e ver as cenas do próximo capítulo do Mensalão. E aí vamos às ruas, mas claro, para conversar com o vizinho sobre a vergonha que é nosso país. Como se não fossemos nós, o povo, quem decidisse o que acontece nele.

O fato é que assumimos não só essa postura de criticar os políticos (e claro, quando somos do partido oposto mais ainda) como também a postura de nos acomodarmos às situações e esperar que alguém faça por nós o que apenas nós podemos fazer.
 
 
Manifestações virtuais sobre os políticos acontecem, mas os resultados não. Enquanto nós não entendermos que o que é público é de todos, (e isso vale entendermos que cuspir na rua além de ser um ato que nem os homens das cavernas faziam diz respeito ao nosso próprio espaço), não conseguiremos sair do lugar. Cuspir na rua é como cuspir no chão da própria casa. E tem gente que ainda acha bonito sujar e maltratar praças e ruas. Não entendemos que os únicos prejudicados seremos  nós mesmos. Isso também funciona na política. Quem nunca ouviu a frase “vou votar em qualquer um, todos são ladrões mesmo”, que me atire a primeira pedra.

O que os políticos fazem com o dinheiro público é errado e é um problema nosso também. Mas para solucionarmos não basta reclamar, temos que ir à luta, fazer protestos, ir a assembleias para ganhar voz e fortalecer nosso movimento. Ficar na frente da televisão, do computador, na mesa do bar e nos preparando para o Carnaval não vai fazer com que os políticos roubem menos.

Mas o amadurecimento político demora. Então, comecemos pelo que está próximo de nós. Vamos exigir daquele vereador filho do nosso vizinho, no qual votamos na eleição passada, vamos questionar o que está acontecendo na região. Aí, vamos participar da assembleia de vereadores, falar o que está errado, botar a boca no trombone. Se não der certo, ainda temos a opção, graças a nossa liberdade de expressão garantida pela luta contra a ditadura, de nos manifestarmos publicamente. Vamos organizar um protesto e ir pra frente das Câmaras dos deputados, vamos ao Planalto Central, vamos fazer panfletagem, abaixo-assinados. Vamos nos movimentar, o que não podemos é aceitar as situações ruins e com as quais não concordamos e achar que são normais, que é um problema do “outro”, da presidente, mas não nosso.

“A União faz a força”.
           

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