Desde os 13 anos de idade faço parte do universo musical, tocando em eventos, recitais, ensaios ou apenas por diversão. Entretanto, há uma questão que perpassa o contexto de nós, músicos brasileiros, que não possui nada de divertido: a atual desordem da Ordem dos Músicos do Brasil, a OMB. O que deveria ser um local de debate e reivindicações dos músicos parece ter se tornado um comércio livre de carteiras.
A situação é aparentemente simples: de acordo com a Lei Federal n° 3.857, uma pessoa só pode exercer livremente a profissão de músico em território nacional se possuir um registro na OMB. Para conseguir esse registro é necessário fazer uma prova prática exigida pela Ordem e depois retirar a carteira de músico. Até então, tudo parece organizado e direito. O problema está na realização desta prova: ela custa R$200 e dura menos de um minuto, ou de três acordes. Existem duas modalidades de prova, a de músico prático e a de profissional. Na prova de modalidade prática o músico pode tocar o que quiser, não há restrições. Um acorde, um músico. Não são exigidos conhecimentos práticos ou teóricos de música. Na modalidade profissional, o músico deve tocar uma peça exigida pela própria ordem. Mas é algo banal e curto assim como a prova de músico prático - as duas modalidades possuem o mesmo valor legal e financeiro. Sem falar sobre a manutenção destes registros: R$110 ao ano. Se a Ordem funcionasse como um sindicato, a favor de seus filiados isso não seria um problema. Mas em contrapartida dos R$200 da prova e dos R$110 de anuidade nada mais é oferecido, apenas um registro para que o músico possa exercer sua profissão dentro do Brasil. De acordo com a própria OMB, apenas esse registro pode provar que alguém é músico, fotos e vídeos não possuem qualquer valor.
A cantora Rita Lee já se posicionou publicamente sobre o assunto durante a gravação do seu álbum Rita Lee MTV Ao Vivo, dizendo que “a OMB não serve para nada, devia acabar isso. Só come o dinheiro da gente”. O que deveria ser um ato de livre arbítrio, fazer parte ou não da Ordem, é, na verdade, uma obrigação. Por isso, aplaudo de pé a iniciativa de estados como São Paulo, que tem sua própria norma sobre o assunto, não exigindo o registro junto à classe. Afinal de contas, como uma instituição tem o poder de dizer quem é ou não músico se ela mesma não exige do candidato conhecimentos específicos? Dessa forma, a lei confirma a ideia de que qualquer um pode ser músico, desde que tenha R$200. E a própria classe de músicos é contra sua Ordem, mas sem o registro não há shows, concertos, eventos. E mais: os músicos sem registro que tocam em eventos públicos estão sujeitos a penalidades, e projetos relacionados à música aprovados em lei ou fundo de incentivo à cultura, seja em âmbito federal, estadual (exceto em São Paulo) e municipal sem registro não são hipóteses nem de longe.
Marina de Morais
Marina de Morais
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