domingo, 20 de março de 2011

A vida em off


A correria do dia a dia imposta pelos tempos modernos nos empobrece. Nós humanos nos tornamos seres egoístas, muitas vezes grosseiros, despreparados, e acima de tudo carentes. São tantos os problemas, os desafetos, as desilusões, as más notícias que tudo que ocorre no mundo atualmente virou comum. É como se nada mais nos abalasse ou pudesse nos atingir.

Criança ficar presa dentro de casa porque brincar na rua é perigoso e está tomada de marginais é cada vez mais aceitável. Jovens frequentarem locais restritos e se encontrarem principalmente em ambientes movimentados são medidas adotadas para tentar escapar da criminalidade cada vez maior e mais violenta. Hoje nada mais pode, e ninguém reclama ou sente falta dos tempos das voltas de mãos dadas nas praças, dos passeios nos parques aos domingos, das brincadeiras de roda na rua que virava a noite. Isso é passado; ficou em outro tempo.

Todas as mudanças influenciam e deixam marcas que refletem na identidade de cada pessoa. Quem soube aproveitar bem a infância, com certeza saberá dar boas dicas para os filhos, mesmo que as brincadeiras precisem ser adaptadas para acontecer entre as paredes do apartamento. Quem brincou com água, terra, bolinha de sabão, bambolê, cantou cantigas de roda, terá um repertório para dividir entre os filhos, sobrinhos e qualquer criança que desperte a atenção.

Já por outro lado, muitas das crianças de hoje não tem mais a oportunidade de “acesso” a esse universo das brincadeiras, que num passado não muito distante, se fazia presente no cotidiano infantil. Temos hoje, praticamente “crianças eletrônicas”, que se sentem felizes e acima de tudo poderosas quando estão com um controle na mão, seja ele de vídeo-game ou televisão, diante de um computador, ou qualquer outra coisa que se enquadre na era digital.

O que os atraem são as novas tecnologias, mas eles não são responsáveis por isso. Apenas acompanham as mudanças avassaladoras do mundo, que chegam sem pedir licença, sem manual de instruções e sem prazo de validade, como é o caso da internet, que deve permanecer para sempre. 

Muitas dessas mudanças trazem benefícios, mas vejo que em sua maioria são capazes de nos tornar seres humanos cada vez mais frios, sozinhos, deixando cada um em um cantinho da casa. Teremos consequências dessas atitudes? Com o afastamento, com a solidão, e com apenas o mundinho virtual online e o resto da vida em “OFF”, a tendência é permanecer estático, sem muita saída, continuando a aceitar todas as notícias do jornal das oito, assistir a novela das nove, ver um joguinho de futebol no meio da semana para quebrar a rotina, assistir um programa chato de auditório aos domingos, e no mais, dar “play” e continuar a “viver a vida”.    

Júlia Medeiros

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